Qual o papel efetivo das terapias não farmacológicas nos casos de demência?

O conceito de terapias não farmacológicas (TNF) é usado há várias décadas para se referir a intervenções que, por meio de agentes primários não químicos, visam melhorar a qualidade de vida de pessoas saudáveis ou doentes. Estas terapias baseiam-se numa intervenção terapêutica dentro de um contexto estimulante e que entendem o paciente como um “todo” (sujeito biopsicossocial), de modo que a intervenção seja adaptada às necessidades das pessoas que participam nelas e afete positivamente a pessoa e o seu ambiente social e familiar.

A pesquisa demostra que as intervenções não farmacológicas podem ser tão importantes, ou até mais, em alguns casos, como o uso de medicamentos para melhorar a qualidade de vida de pessoas com demência e seus cuidadores e para o tratamento de alguns dos principais sintomas desta doença.Os efeitos das terapias não farmacológicas ocorrem em domínios relevantes como a qualidade de vida, a cognição, as atividades de vida diária, o comportamento, a afetividade, domínio físico-motor, bem-estar e qualidade de vida do cuidador, institucionalização e os custos.

Para obter um bom resultado na aplicação do tratamento não farmacológico, é importante que as terapias sejam supervisionadas e desenvolvidas por profissionais especializados e capacitados para avaliar, acompanhar e validar a intervenção.É aqui que o Gerontólogo pode e deve assumir um papel relevante, utilizando a sua visão global e as suas capacidades de mediação e articulação com as diferentes áreas de intervenção, ampliando assim o impacto que as terapias não farmacológicas podem trazer na pessoa e sua envolvente.

Particularmente, no caso das Demências, uma vez que apenas com a medicação não conseguimos avanços significativos, é fundamental investir em terapias não farmacológicas como um tratamento para melhorar a qualidade de vida dos pacientes, familiares e profissionais.Na maioria destes casos, as terapias não farmacológicas serão usadas em conjunto com a terapêutica (medicamentos), procurando-se aumentar ou mesmo potenciar os seus efeitos.

Os OBJETIVOS terapêuticos do tratamento não farmacológico focam-se essencialmente em:

  • Estimular, manter ou melhorar as capacidades preservadas da pessoa;
  • Evitar a desconexão com o meio ambiente e fortalecer as relações sociais;
  • Dar segurança e aumentar a autonomia da pessoa nas suas atividades da vida diária;
  • Estimular a auto-identidade e a auto-estima;
  • Minimizar o stress e evitar reações psicológicas anormais;
  • Atrasar ou diminuir a evolução da doença, melhorando o desempenho cognitivo e funcional;
  • Retardar e/ou evitar a institucionalização;
  • Melhorar a qualidade de vida da pessoa doente e seus cuidadores familiares.

Atualmente, a procura incessante em novas e melhores abordagens no campo das Demências e outras patologias neurodegenerativas disponibiliza uma panóplia muito diversificada de intervenções, onde se destaca:

– Estimulação cognitiva

– Estimulação psicomotora

– Treino das atividades de vida diária

– Estimulação sensorial

– Musicoterapia

– Arterapia

– Dança terapêutica

– Psicoterapia

– Terapia assistida por animais

– Atividades de socialização

– Manipulação / adaptação ambiental

– Psicoeducação para cuidadores

Pese embora ainda haja muito a ser feito e seja preciso validar muitas das pesquisas sobre os tratamentos não farmacológicos, é de real importância destacar que cada vez mais estes tratamentos ganham espaço e atenção, não apenas na literatura científica como nas práticas diárias de quem lida com uma pessoa com Demência. E sendo esta a minha realidade profissional, é um desafio diário olhar para o meu utente (e sua família) e conseguir descodificar tudo aquilo que a doença traz.

(i) Cada pessoa é uma pessoa diferente, com sintomas diferentes e evoluções diferentes.

(ii) Somos a ‘luz ao fundo do túnel’ quando os fármacos não revelam grandes alterações. 

(iii) Cada sintoma tem de ser devidamente interpretado e cada problema tem solução (caso contrário não seria um problema). 

(iv) Muito mais que as nossas capacidades técnicas impera a relação, a proximidade e o humanismo. 

(v) O desafio é a procura constante em fazer mais, melhor e diferente respondendo a necessidades tão particulares. 

(vii) Até ao fim da vida, há sempre muito a fazer! 

Sabemos que há muito ainda a ser aprendido sobre a intervenção na Demência, colocando a teoria na prática pode melhorar-se a qualidade dos cuidados e, mais importante, a qualidade de vida das pessoas idosas com demência e seus cuidadores.  Assim sendo, é importante encarar as terapias não farmacológicas não como uma opção, mas sim como uma resposta efetiva perante um quadro de Demência.



Sobre a autora: 

Dânia Miranda é licenciada em Educação Social Gerontológica pelo Instituto Politécnico de Viana do Castelo e mestre em Economia Social pela Universidade do Minho. Realizou ainda formação avançada em Gerontologia e uma pós-graduação em Gestão de Organizações. No início do seu percurso profissional trabalhou na área da formação profissional e consultoria social. Posteriormente, colaborou com a Santa Casa da Misericórdia de Lagos como Gerontóloga e posteriormente como diretora técnica de um equipamento social com ERPI e CD. Durante esta experiência teve ainda a oportunidade de participar na implementação do Sistema de Gestão da Qualidade e no desenvolvimento de um projeto direcionado para a área das Demências (‘Lembra-te de Mim’). Em 2017 lança o Colibri – Centro de Envelhecimento Saudável (em Vila Nova de Famalicão), um projeto inovador em Gerontologia e altamente especializado em Demências e outras patologias neurodegenerativas. Mais tarde, junta-se ao projeto a Ana Novo, também formada em Educação Social Gerontológica e hoje as duas gerontólogas pretendem que o Colibri seja uma referência de intervenção nesta área.

Dânia Miranda

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