O papel do gerontólogo na formação de cuidadores formais

Quem são os cuidadores dos nossos idosos?

Parece evidente, e tem sido alvo de discussão por parte de vários investigadores, que os equipamentos para pessoas idosas carecem de profissionais qualificados. Não raras vezes encontramos, nestes locais, pessoas sem formação, perfil indicado ou mesmo vocação para um trabalho tão exigente.Trabalho como formadora no Instituto de emprego desde junho de 2016, mas o primeiro contacto com a área começou um pouco antes. Como profissional de Gerontologia durante dois anos numa IPSS despertou, reconheci a importância da formação in loco numa realidade sempre em mudança e com uma população cada vez mais exigente e com mais dependências.Como pode então o Gerontólogo intervir nesta realidade dando o seu contributo com o nobre objetivo de “promover a qualidade de vida das pessoas que estão a envelhecer”?

A meu ver, a formação ostenta, atualmente, duas vertentes: direcionada a profissionais da área, que precisam de constantemente renovar conhecimentos; ou direcionada para os que querem fazer desta área uma possibilidade profissional. Não é, por isso, difícil perceber que a abordagem a estes grupos terá algumas diferenças.

O meu trabalho como Gerontóloga permitiu um primeiro contacto com a experiência de formar cuidadores. Foi, sem dúvida, um desafio colaborar na coordenação de uma equipa de 40 funcionárias. Pessoas de diferentes idades, com muitos anos de serviços e técnicas e atitudes muito enraizadas no seu método de trabalho. Adotei a estratégia “side by side” no sentido de poder estar com as funcionárias em tempo real, percebendo a forma como trabalhavam e tentando entender as suas dificuldades. Esta estratégia e aproximação facilitou a identificação de lacunas e áreas onde a intervenção e formação eram necessárias.

Por outro lado, existem atualmente inúmeros cursos profissionais para pessoas que tencionam trabalhar como cuidadores. Os cursos de formação para adultos (cursos EFA) promovidos pelo Instituto de Emprego são um exemplo disso. Têm o objetivo de dar aos desempregados uma esperança de futuro profissional. É com estas pessoas que trabalho diariamente e foi a vontade de poder transmitir os meus conhecimentos e experiências a quem não tem experiência no cuidado formal de idosos que me deixou entusiasmada. Vejo estas pessoas como “telas em branco” que posso “pintar” de acordo com as novas exigências e desafios crescentes do trabalho com uma população envelhecida.Os cuidadores têm um papel importante auxiliando os idosos nas adaptações físicas e emocionais necessárias para o autocuidado. É uma profissão que tem como característica o trabalho por turnos, sendo hoje evidente que esse fator altera a qualidade de vida e a produtividade dos trabalhadores e afeta os ritmos biológicos, causando desordens a nível psicológico e físico. A baixa remuneração, instabilidade, saídas e substituições frequentes são também fatores que causam desmotivação nestes profissionais e que podem comprometer a qualidade dos cuidados prestados. Acredito que é fundamental manter os formandos conscientes destas situações por forma a prepará-los para a realidade do mundo de trabalho. Adoto, assim, uma estratégia de (in)formação, mas também de avaliação e análise e a formação em Gerontologia bem como a experiência de coordenação anterior, tem-me ajudado neste sentido. Considero um dever manter a entidade formadora informada de quais os formandos com perfil adequado à tarefa de cuidar.Muito para além das técnicas de cuidado, fundamentais, mas não suficientes por si só, importa trabalhar com os formandos formas de estar e atitudes perante o idoso. A utilização de dinâmicas de grupo, role-playing e debates/discussões são parte integrante das minhas várias sessões, principalmente para trabalhar questões como empatia, relações de trabalho, trabalho de equipa e comportamentos assertivos.

Toda a intervenção com estes (futuros) profissionais é decisiva para o bem-estar dos trabalhadores em si, mas também para os residentes das instituições e respetivas famílias e o Gerontólogo, com todo o seu know-how e abordagem holística revela-se um elemento essencial nas equipas formativas.

Ana Filipa Almeida

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