Competências de um Gerontólogo para a direção técnica: Partilha de experiências

Quem é que nunca se cruzou com um “grande edifício” onde se vem crianças a brincar, normalmente em parques e todas vestidos de igual, ou até pessoas idosas a passear ou sentados nos jardins desse mesmo edifício? Quem nunca se cruzou com um grupo de pessoas idosas a almoçar num parque de merendas nas imediações, juntamente com algumas senhoras de uniforme? Nestes edifícios coabitam várias pessoas, várias vidas, vários contextos tão distintos e tão complementares uns dos outros. É neste sitio que todos os dias entro, com um sorriso e com vontade de “mudar o mundo”. Trabalho como Gerontóloga em IPSS’s desde de 2013, e desde então esta vontade tem vindo a aumentar e cada vez mais tenho a certeza da escolha que fiz quando decidi seguir este percurso, e da necessidade que este tipo de “edifícios”, chamadas de instituições, tem de profissionais como os Gerontólogos!

Quando me colocam a pergunta, que tipo de competências deve ter um Gerontólogo numa IPSS a resposta (tal como a própria profissão) é complexa. A parte óbvia é que o nosso trabalho se direciona para a população mais envelhecida, no entanto o meu trabalho vai muito para além disso! Como diretora técnica de três respostas sociais (ERPI – Estrutura Residencial para Pessoas Idosas, CDD – Centro De Dia e SAD- Serviço de Apoio Domiciliário) tenho muitas histórias de vida, muitos desafios para superar no dia-a-dia, mas felizmente sinto que a formação que recebi me deu as competências necessárias, não só para responder a esses desafios, mas também para procurar nos locais corretos as respostas a qualquer outro desafio. Por isso, e embora considere as competências académicas, que recebi enquanto gerontóloga essenciais, a exigência do dia-a-dia como diretora técnica obriga-me a manter-me atualizada, a procurar, e a aprender diariamente novas competências e a usar novas ferramentas, de forma a responder da melhor forma possível a essa exigência, a esses desafios próprios da profissão e dos casos que surgem.

Como Gerontólogos, temos conhecimentos muito abrangentes, que vão desde a área social à biológica e até psicológica. E estes conhecimentos são essenciais para quem trabalha nesta área, nomeadamente, para quem lida diariamente com a população idosa! Este conhecimento, dá-nos a capacidade, enquanto diretores técnicos, de vocacionar e orientar o trabalho de cada profissional que trabalha diretamente com o idoso, para proporcionar uma melhor qualidade de vida, potencializando a autonomia e a independência das pessoas que se cruzam connosco. Somos profissionais “de equipa”! Não concebo o meu trabalho sem uma equipa coesa e multidisciplinar, composta por vários profissionais técnicos e não técnicos em que, tal e qual como num jogo, só conseguimos atingir um objetivo (neste caso o bem-estar dos nossos utentes) se a equipa trabalhar toda no mesmo sentido. Cada um fornece o seu conhecimento, o seu empenho e dedicação e os resultados que obtemos são refletidos nos sorrisos abertos das pessoas para as quais trabalhamos: Seja no “obrigado” sincero dos utentes e dos familiares, como nos olhares de ternura que os profissionais cruzam quando um dos nossos utentes consegue melhorar o seu dia-a-dia! E isso pode ocorrer através da conquista de voltar a conseguir dar alguns passos na sequência da reabilitação pós-AVC, ou através de um sorriso sincero e verdadeira após a vitória num jogo lúdico.

É importante ressalvar que o trabalho de diretora técnica também passa muito pela área de gestão: gestão de casos, gestão de equipamentos, de equipas, de pessoas, a gestão da qualidade dos vários serviços. Por isso, considero que a minha especialização – Gestão de Equipamentos Sociais, me tenha dado competências essenciais para esta componente do dia-a-dia de uma IPSS. Em especial, todos os dias é preciso gerir recursos humanos e recursos materiais, como tal, as competências técnicas que recebemos durante essa formação, são constantemente colocadas em prática na vida profissional de um Gerontólogo no contexto de uma IPSS.

Mas uma IPSS, tal como referi no inicio desta reflexão, é um conjunto de contextos, de vidas e de casos, e como tal temos de procurar o melhor para todos. É necessário saber manter o foco e negociar os objetivos da equipa! Por exemplo, como Gerontóloga da instituição, em conjunto com a restante equipa técnica (Educadoras, Assistentes Social, Psicolólogas, Professores, Nutricionistas, Enfermeiros, Médicos, etc. ..), faz parte dos meus objetivos procurar a melhor interação dos idosos com os vários utentes, sejam eles crianças, adolescentes ou adultos. Procuramos, em equipa, proporcionar momentos e aprendizagens proveitosas para todos os elementos envolvidos. São importantíssimos estes momentos intergeracionais, não só para os utentes, mas também para os profissionais, pois aprendemos todos, novas formas de lidar com os desafios naturais de cada faixa etária e proporcionamos momentos de partilha entre pessoas, em que, muitas vezes, se pensa que a única coisa que têm em comum é o local onde passam parte do seu dia.
Por outro lado, também temos que saber aproximar a pessoa idosa da comunidade. Enquanto IPSS somos parte integrante de uma comunidade onde estamos inseridos, e através das atividades que fazemos, fazemos com que os utentes se sintam parte integrante e ativa dessa mesma comunidade. Acrescento ainda que é também através do nosso conhecimento que, nós técnicos, podemos: rentabilizar os recursos, por forma a potencializar a participação dos nossos utentes no dia-a-dia da comunidade. Enquanto Gerontóloga e Diretora Técnica, sinto que tenho um papel importante neste sentido, pois tenho de procurar as ferramentas disponíveis para que o individuo encontre, na sociedade que o rodeia, a melhor resposta para o seu caso. Neste campo, as IPSS têm de procurar ser elementos pró-ativos, na busca de soluções novas para os desafios que se avizinham no futuro próximo. Temos de encontrar as soluções mais adequadas para proporcionar serviços adequados à população que temos de servir. É também esse o papel do Gerontólogo, estar atento e sensível às novas realidades que nos rodeiam de forma a disponibilizar os serviços necessários para que a vida dos nossos idosos tenha a melhor qualidade possível.

Em suma, tenho a mais profunda certeza que somos profissionais competentes e que somos essenciais no contexto das IPSS pois temos o conhecimento amplo e multidisciplinar que este tipo de resposta social carece tendo em conta que cada vez mais, somos um país de e para os idosos.

Ana Nascimento

Relacionados

Loading...